MAIMÔNIDES
Maimônides: O Rambam
Maimônides: O Rambam índice "De Moshê a Moshê, nunca houve alguém como Moshê."
1135-1204
(4895-4965)
Vida
No decorrer da história, houve
alguns pensadores cuja influência sobre as gerações que os sucederam continua
evidente até os dias de hoje.
Rabi Moshê ben Maimon (Maimônides) ou
simplesmente Rambam como é mais conhecido, foi uma destas figuras.
Maimônides nasceu em 1135, na cidade de Córdoba, na Espanha, então sob
domínio muçulmano. A cidade era um grande centro cultural, onde muçulmanos,
judeus e cristãos conviviam e participavam ativamente da vida pública.
Em 1148, no entanto, foi tomada pelos Almohads, que pregavam a
restauração da fé pura Islâmica. Os judeus que não se converteram foram
expulsos. Rabi Maimon, pai de Maimônides e líder da comunidade judaica de
Córdova, levou sua família de cidade em cidade no sul da Espanha durante a
próxima década, à medida que os Almorávidas gradualmente varriam o país. Os
comentários de Maimônides sobre os dois Talmud, o de Jerusalém e o da Babilônia,
bem como seus primeiros tratados, foram compostos durante aqueles anos de
perseguição.
Em 1159 chegaram a Fez, Marrocos, onde permaneceram por
cinco anos. Maimônides estudou medicina e Torá durante este período, onde também
compilou a maior parte de seu trabalho para o comentário da Mishná. Trabalhando
às vezes sob condições difíceis, ele era com freqüência forçado a trabalhar de
memória, condensando e esclarecendo as longas explicações talmúdicas da Mishná,
sem ter o texto à sua frente.
Em 1164, a perseguição religiosa forçou a
família a sair também de Fez. Após passarem pela Terra Santa, Rabi Maimon e sua
família chegaram a Fostad, no Egito (antigo Cairo) em 1166, o ano do falecimento
de Rabi Maimon. Durante os cinco anos que se seguiram, a família foi sustentada
pelo irmão de Maimônides, David, permitindo que Maimônides começasse a trabalhar
em sua obra Mishnê Torá. Em 1171, no entanto, David morreu num naufrágio, e
Maimônides passou a exercer a medicina como forma de sustentar a família. Foi
nesta conjuntura que ele deu início àquilo que mais tarde se tornaria uma
carreira de sucesso como médico, chegando a servir como médico pessoal do Grande
Vizir Alfadhil e do Sultão Saladin.
Por volta de 1177, as obras eruditas
de Maimônides tinham se tornado tão respeitadas que foi convidado a ser Rabino
Chefe do Cairo, uma comunidade judaica grande e influente. Apesar dessas
responsabilidades, ele completou a Mishnê Torá logo depois e, dez anos mais
tarde, seu Guia para os Perplexos.
Maimônides faleceu em 1204, em Fostat,
e foi enterrado em Tiberíades, Israel.
Datas e Eventos
- 1135 (4895 após a criação do Mundo) - 14 de Nissan, nasce Moshê ben Maimon em Córdova, Espanha.
- 1148- (4908) - Os almohávidas, seita muçulmana fanática da África do Norte, captura Córdova. A família Maimon foge e começa um período de onze anos de andanças pelo sul da Espanha e norte da África.
- 1158/61 (4918-4921) - O Rambam começa a escrever o seu "Comentário Sobre a Mishná".
- 1159 (4919) - A família Maimon se estabelece em Fez, capital do Marrocos.
- 1162/63 (4922-4923) - O Rambam compõe e propaga a "Igueret Hashmad" (Epístola sobre a Apostasia).
- 1164-65 (4924/4925) - A família Maimon deixa Fez e percorre a Terra Santa.
- 1165-68 (4925-4928) - O Rambam completa seu "Comentário sobre a Mishná".
- 1166 (4926) - A família Maimon deixa a Terra Santa e se estabelece em Alexandria, no Egito
- 1166 (4926) - Falece Rabi Maimon, pai do Rambam.
- 1167/70 (4927-4930) - O Rambam começa a escrever o "Sefer HaMitsvot" e o "Mishnê Torá".
- 1169 (4929) - O Rambam escreve e envia a "Igueret Teiman" aos judeus do Iêmen.
- 1171 (4931) - Rabi David, irmão do Rambam, morre afogado num naufrágio.
- 1171 (4931) - O Rambam se estabelece em Fostad, Egito, onde vive pelo resto da sua vida.
- 1171/74 (4931-4934) - Fim do califado de Fatimide. Saladino torna-se Rei do Egito.
- 1177 (4937) - O Rambam é nomeado Rabino-Mor pela comunidade judaica do Cairo.
- 1177/80 (4037-4940) - O Rambam termina de escrever o Mishnê Torá.
- 1186 (4946) - 28 de Sivan, nasce o filho do Rambam, Rabi Avraham.
- 1186/90 (4946-4950) - O Rambam termina o "More Nevuchim" - o "Guia dos Perplexos".
- 13 de dezembro de 1204 - 20 de Tevêt de 4965 - O Rambam falece e é sepultado na Cidade Santa de Tiberíades, em Israel.
Mishnê
Torá
Por volta do século XII da era comum, cerca de 700 anos
depois que o Talmud da Babilônia tinha recebido seu formato final, havia se
desenvolvido uma vasta população de judeus para quem seus argumentos, muitas
vezes sutis, eram inacessíveis. Sem as explicações talmúdicas, era difícil
entender corretamente a linguagem condensada da Mishná.
Rabi Yitschakl
Alfasi (o Rif) deu o primeiro passo para tornar as explicações mais acessíveis,
selecionando opiniões autorais e a passagem legal relevante do Talmud,
dispensando as discussões mais elaboradas e as seções de casos. Em seu formato
final, a compilação do Rif foi uma tremenda realização - poucos eruditos tinham
o conhecimento e a percepção necessária para estudar todo o material talmúdico
para chegar às leis definitivas. Seguindo a mesma organização do Talmud - com
suas freqüentes, às vezes abruptas mudanças de assunto - no entanto, a obra do
Rif não era de fácil consulta àqueles que não eram bem versados no
Talmud.
Maimônides procurou remediar esta deficiência compondo um código
organizado por tópicos.
Mishnê Torá, é composta de 14 livros que contêm 982
capítulos e milhares de leis. Dividiu sua obra em catorze livros, com cada livro
dividido em capítulos e cada capítulo desmembrado em discussões de leis
individuais.
Esforçou-se para criar um código no qual o regulamento
sobre um assunto específico pudesse ser prontamente localizado. Colecionando
todas as legislações bíblicas, talmúdicas e pós-talmúdicas, e destacando as
opiniões mais abalizadas, ele incluiu toda a gama da Lei Judaica - mesmo aquelas
leis que, segundo a tradição, não serão novamente praticadas até a Era de
Mashiach (tais como as referentes aos sacrifícios no Templo). Para facilitar o
acesso e a leitura, Maimônides escolheu apresentar as leis em seu código sem
referência a suas fontes ou explicações de seu arrazoado (ambos foram
subseqüentemente fornecidos por outros comentaristas).
Sua intenção, em
resumo, foi fornecer um código de leis que, em suas palavras, permitiriam que
"nenhum homem teria de recorrer a qualquer outro livro sobre qualquer assunto da
Lei Judaica, mas que o compêndio conteria toda a Lei Oral". Portanto, ele
decidiu chamá-la Mishnê Torá (Segundo à Torá). E de fato, a partir de sua
publicação, a reação à obra foi extraordinária.
Estudada e consultada por
judeus de todas as partes, a Mishnê Torá logo foi aclamada como a obra mais
notável da erudição judaica desde o Talmud.
Escrita em linguagem clara e
cuidadosamente elaborada, tornou-se um modelo de composição sucinta e
concentrada. (Comentaristas posteriores se referem à redação das obras de
Maimônides como "linguagem de ouro"). Única em seu escopo, sem par em sua
composição, a obra tem se mantido como o alicerce para todas as codificações da
Lei Judaica desde então.
Guia para os
Perplexos
No seu livro "Guia dos Perplexos", o Rambam mostra o
caminho certo para o indivíduo. Apesar de sempre preocupar-se com o bem-estar da
comunidade e do povo em geral, ele sabia muito bem que às vezes o indivíduo não
se adapta às regras gerais. Por isso escreveu o livro como uma orientação para a
vida.
Durante a vida de Maimônides, muitos judeus observantes tinham
sentido atração pelas obras dos antigos filósofos gregos, uma influência que era
popular dentre os eruditos árabes da época.
Enfrentando conflitos entre as
concepções aristotélica e judaica do mundo, estes judeus se tornaram perturbados
e abalados em sua fé. Preocupado com essa confusão e temendo suas potenciais
conseqüências, Maimônides compôs seu Guia para elucidar sistematicamente a
filosofia básica e os dogmas religiosos do Judaísmo. O Guia não foi direcionado
ao judeu descrente, mas explicitamente projetado para judeus eruditos e devotos.
Como escreve Maimônides em sua introdução: "O objetivo desse tratado é
esclarecer um homem religioso que foi treinado a acreditar na verdade de nossa
sagrada Lei, que conscientemente cumpre seus deveres morais e religiosos, e ao
mesmo tempo tem obtido sucesso em seus estudos filosóficos."
O Guia é
dividido em três partes. A primeira é dedicada a discussões dos equívocos que
podem surgir diretamente do texto da Torá - aparentes contradições escriturais,
antropomorfismos de D'us, e similares. O segundo ataca problemas que brotam das
incompatibilidades entre as abordagens "científica" (Aristotélica) e bíblica a
D'us e ao mundo, e analisa extensivamente a legitimidade de aplicar o raciocínio
aristotélico a questões de religião e da Torá. A seção final do Guia está
voltada a temas mais gerais, fundamentalmente religiosos: a natureza do bem e do
mal, o propósito do mundo, o significado por trás dos Mandamentos, o caráter da
pura devoção. Infelizmente, a linguagem filosófica na qual o Guia é composto tem
levado a um mau entendimento das intenções de Maimônides. Perfeitamente cônscio
dessas dificuldades em potencial, Maimônides deixa claro em sua introdução que o
Guia deve ser lido com muito cuidado:
"Aquilo que escrevi nesta obra não
foi a sugestão do momento; é o resultado de profundo estudo e grande aplicação...
Não o leia superficialmente, para não me ofender, e não extraia benefício para
si mesmo. Você deve estudar extensivamente e ler sempre."
Alguns dos mais
notáveis comentaristas rabínicos clássicos na verdade indicaram que muitos dos
conceitos que Maimônides discute estão baseados em profundas opiniões do Zôhar,
o texto básico do misticismo judaico. Deve-se enfatizar que embora muito
filosófico e científico, o Guia permanece profundamente enraizado na Torá.
Maimônides via a ciência e a filosofia como auxílios ao entendimento das Leis de
D'us, em vez de um fim em si mesmas.
Apesar desses mal entendidos que se
seguiram à publicação e ao fato de ter uma platéia específica, a influência do
Guia foi profunda, tanto no círculo judaico quanto no não-judaico.
Indiscutivelmente o mais comentado dos tratados filosóficos de todos os tempos,
possui mais de trinta comentários em hebraico cujos autores são conhecidos e
grande número de outros comentários escrito por autores cujos nomes se
perdeu.
Traduzido em praticamente todos os idiomas europeus, é citado
extensivamente nas obras de Aquino, Bacon e outros. O mais significativo, porém,
é que o Guia foi responsável por abrir uma nova era de investigação judaica em
questões de filosofia, servindo tanto como pedra fundamental quanto como um
catalisador para obras subseqüentes em seu gênero.
Os Treze
Princípios de Fé
O Rambam faz parte da vida dos sábios e dos
eruditos, quando todos os dias se elevam ao mergulhar na profundidade de seus
livros. Mesmo as pessoas menos instruídas são influenciadas pelo Rambam, através
dos 13 Princípios da Fé, formulados por ele.
Esses princípios da fé
judaica versam sobre as virtudes, a fidelidade e a fé na eternidade da Torá e na
breve vinda de Mashiach - todos estes valores tiveram e têm um papel importante
na complementação espiritual de nosso povo. Esta prece representa a grandeza da
obra do Rambam, pois ele conseguiu penetrar no intelecto e no coração de todos
os judeus; do mais erudito ao mais afastado dos conhecimentos da
Torá.
Cada um dos 613 preceitos da Torá serve para:
- Transmitir atitudes apropriadas
- Remover concepções errôneas
- Estabelecer legislação
- Eliminar a perversidade e a injustiça
- Imbuir no indivíduo virtudes exemplares
- Deter a pessoa perante as más inclinações.
Os Treze Princípios da Fé - segundo Maimônides "Ani Maamin" - Creio plenamente:
- Creio plenamente que D'us é o Criador e guia de todos os seres, ou seja, que só Ele fez, faz e fará tudo.
- Creio plenamente que o Criador é um e único; que não existe unidade de qualquer forma igual à d'Ele; e que somente Ele é nosso D'us, foi e será.
- Creio plenamente que o Criador é incorpóreo e que está isento de qualquer propriedade antropomórfica.
- Creio plenamente que o Criador foi o primeiro (nada existiu antes d'Ele) e que será o último (nada existirá depois d'Ele).
- Creio plenamente que o Criador é o único a quem é apropriado rezar, e que é proibido dirigir preces a qualquer outra entidade.
- Creio plenamente que todas as palavras dos profetas são verdadeiras.
- Creio plenamente que a profecia de Moshê Rabeinu é verídica, e que ele foi o pai dos profetas, tanto dos que o precederam como dos que o sucederam.
- Creio plenamente que toda a Torá que agora possuímos foi dada pelo Criador a Moshê Rabênu.
- Creio plenamente que esta Torá não será modificada e nem haverá outra ortorgada pelo Criador.
- Creio plenamente que o Criador conhece todos os atos e pensamentos dos seres humanos, eis que está escrito: "Ele forma os corações de todos e percebe todas as suas ações" (Tehilim 33:15).
- Creio plenamente que o Criador recompensa aqueles que cumprem os Seus mandamentos, e pune os que transgridem Suas leis.
- Creio plenamente na vinda do Mashiach e, embora ele possa demorar, aguardo todos os dias a sua chegada.
- Creio plenamente que haverá a ressurreição dos mortos quando for a vontade do Criador.
Maimônides na Medicina
O
túmulo de Rambam
(Tiberíades)
O Rambam extraiu seu
conhecimento medicinal do próprio Talmud. Os nossos sábios, há milhares de anos,
já conheciam regras medicinais que ainda agora estão sendo descobertas. A
própria Torá nos adverte para cuidarmos da saúde de nosso corpo. É proibido
aceitar a falsa linha de que, como D'us deu a doença, somente por Ele deve ser
curada. Ao contrário, no Judaísmo é uma mitsvá curar os doentes e vencer as
moléstias; a salvação de uma vida é superior a tudo. Maimônides escreveu: "É
proibido uma pessoa se expor ao perigo de modo proposital."
A Halachá tem
uma grande influência sobre os conceitos do Rambam na Medicina. Sua famosa
oração do médico é plena de fé e convicção da influência Divina sobre a
Medicina. Ele acreditava plenamente nesta influência sobre o corpo, onde alma e
o corpo são indivisíveis.
Rambam sempre confiou muito no Médico
Celestial, que acompanha o médico terrestre. O ponto principal de Rambam é que
somente por meios físicos não se pode curar um doente. O corpo anda de mãos
dadas com a alma e são necessárias forças espirituais para curar as doenças. As
boas virtudes foram colocadas por Rambam no mesmo nível dos remédios, pois um
completa o outro. Segundo a linha do Rambam, a pessoa que mortifica
propositadamente seu corpo é um pecador, pois está fazendo a alma sofrer. Ele
declarava que a força do corpo está ligada ao espírito e que todas as doenças se
refletem no espírito da pessoa. Na sua linguagem: "Para os irados, sua vida não
é vida."
Suas opiniões são válidas ainda atualmente, apesar de terem já
se passado centenas de anos.
Podemos conhecer um pouco de Rambam como médico
através da leitura do texto conforme aparece em uma de suas cartas:
"Moro em Fostat e o Sultão reside no Cairo; estes dois locais estão a
cerca de 2km de distância. Minhas obrigações para com o Sultão são muito
pesadas. Tenho de visitá-lo todos os dias, de manhã cedo; e quando ele ou algum
dos filhos, ou as pessoas do harém, estão indispostos, não ouso sair do Cairo,
porque devo permanecer a maior parte do dia no palácio. Também acontece
freqüentemente que um ou dois dos oficiais da corte adoecem, e devo cuidar de
sua cura.
Portanto, em geral, vou ao Cairo bem cedo pela manhã e se nada de
extraordinário acontece, só volto a Fostat no fim da tarde.
"A esta
altura, estou quase morrendo de fome. Encontro as antecâmaras repletas de gente,
judeus e gentios, nobres e pessoas comuns, juizes e meirinhos, amigos e inimigos
- uma multidão variada, que espera pela minha volta. Desmonto de meu animal,
lavo as mãos, vou até meus pacientes, peço a eles que esperem enquanto como
alguma coisa, a única refeição que faço em vinte e quatro horas. Então atendo
meus pacientes, prescrevo receitas e orientações para suas diversas doenças. Os
pacientes entram e saem até o anoitecer, e às vezes até, eu lhe asseguro
solenemente, oito horas da noite. Converso e receito deitado, de pura fadiga, e
quando a noite chega estou tão exausto que mal posso falar.
"Em conseqüência
disso, nenhum israelita pode ter qualquer entrevista privada comigo, exceto no
Shabat. Naquele dia toda a congregação, ou pelo menos a maior parte, procura-me
depois do serviço matinal, quando então os instruo sobre seus procedimentos
durante a semana inteira; estudamos juntos um pouco até meio-dia, quando vão
embora. Alguns deles voltam, e lêem comigo depois do serviço vespertino até as
Preces Noturnas. Assim passo o dia. Aqui relatei a você apenas uma parte daquilo
que verá quando me visitar."
Oração do
médicoAutoria atribuída a Maimônides:
"Ó D'us, Tu formaste o corpo
do homem com infinita bondade; Tu reuniste nele inumeráveis forças que trabalham
incessantemente como tantos instrumentos, de modo a preservar em sua integridade
esta linda casa que contém sua alma imortal, e estas forças agem com toda a
ordem, concordância e harmonia imagináveis. Porém se a fraqueza ou paixão
violenta perturba esta harmonia, estas forças agem umas contra as outras e o
corpo retorna ao pó de onde veio. Tu enviaste ao homem Teus mensageiros, as
doenças que anunciam a aproximação do perigo, e ordenas que ele se prepare para
superá-las.
"A Eterna Providência
designou-me para cuidar da vida e da saúde de Tuas criaturas. Que o amor à minha
arte aja em mim o tempo todo, que nunca a avareza, a mesquinhez, nem a sede pela
glória ou por uma grande reputação estejam em minha mente; pois, inimigos da
verdade e da filantropia, ele poderiam facilmente enganar-me e fazer-me esquecer
meu elevado objetivo de fazer o bem a teus filhos.
"Concede-me força de
coração e de mente, para que ambos possam estar prontos a servir os ricos e os
pobres, os bons e os perversos, amigos e inimigos, e que eu jamais enxergue num
paciente algo além de um irmão que sofre. Se médicos mais instruídos que eu
desejarem me aconselhar, inspira-me com confiança e obediência para
reconhecê-los, pois notável é o estudo da ciência. A ninguém é dado ver por si
mesmo tudo aquilo que os outros vêem.
"Que eu seja moderado em tudo,
exceto no conhecimento desta ciência; quanto a isso, que eu seja insaciável;
concede-me a força e a oportunidade de sempre corrigir o que já adquiri, sempre
para ampliar seu domínio; pois o conhecimento é ilimitado e o espírito do homem
também pode se ampliar infinitamente, todos os dias, para enriquecer-se com
novas aquisições. Hoje ele pode descobrir seus erros de ontem, e amanhã pode
obter nova luz sobre aquilo que pensa hoje sobre si mesmo.
"D'us, Tu me
designaste para cuidar da vida e da morte de Tua criatura: aqui estou, pronto
para minha vocação."
Ensinamentos
Filosofia
Os filósofos opinam que
Maimônides influenciou muito o pensamento da Filosofia e da Medicina. Graças a
ele, a teoria de Aristóteles foi aceita na Filosofia em geral na Idade Média. O
Rambam criou uma síntese entre a Filosofia e a Medicina, aprofundando-se em
ambas, analisando-as de maneira aguda e crítica. Os seus ensinamentos sobre
estas matérias vieram a ser conhecidos mesmo nos ambientes não judaicos. Suas
obras foram traduzidas do original árabe para o ladino e outros idiomas daquela
época. Em muitas universidades estas obras ainda são estudadas.
Ciência
No mundo científico, o
Rambam foi intitulado de "O Aristocrata Espiritual", mas para nós, ele tem um
título maior e mais elevado, "O Mestre de Nosso Povo". Seus ensinamentos
destinam-se não somente aos gigantes em erudição, mas também às pessoas simples,
pois a estas ele doou inteiramente sua alma. Estava sempre atento aos interesses
das mesmas, em todos os países onde viveu.
O
Talmud
Em seu outro trabalho monumental, o Rambam declara
que para entender as leis do Talmud são necessárias três coisas: um intelecto
amplo, paz de espírito e muito tempo. Ele viu que o Talmud, a principal obra
orientadora do povo judeu, tinha ficado além do alcance da maioria do povo. Isto
se deveu a abordagem de temas complexos ali expostos, aliado às dificuldades e
sofrimentos dos judeus que não possuiam o tempo e a calma para absorver seu
vasto e profundo conteúdo. O Rambam sentiu também que os talmudistas estavam
diminuindo em número e assim, havia o grave perigo de o povo esquecer a Torá,
sem a qual a vida de um judeu não tem sentido.
Dedicou então todos seu
profundo conhecimento para desvendar os segredos da Torá tornando-os acessíveis
e de fácil compreensão a todos, escrevendo grande parte de suas obras em outros
idiomas, especialmente o árabe, que na época era a língua corrente no sul da
Europa, norte da África e em todo o Oriente. Sua primeira obra, a Explicação da
Mishná, também é chamada de "Livro da Iluminação", pois ilumina os olhos dos
leigos.
Antes de chegar aos vinte e três anos, Maimônides tinha
completado um tratado sobre o Calendário Judaico, uma dissertação sobre lógica,
e um compêndio legal do Talmud de Jerusalém.
As mitsvot
Maimônides não exige que
o indivíduo se eleve acima da capacidade do seu intelecto, mas quer que
desenvolva os dons naturais para usá-los da melhor maneira possível. Nos orienta
a usar "um caminho de ouro", as mitsvot, boas ações, que nos abre os olhos para
encontrar o verdadeiro caminho até D'us e Sua Torá.
A finalidade do Rambam era
elevar o povo mesmo nos momentos mais difíceis, abrir amplamente as portas a
todos os judeus para que pudessem estudar e compreender o Talmud, tanto os
adultos como as crianças. É interessante notar como ele se expressa ao falar das
leis do shofar: "Por causa da elasticidade do exílio e dos fortes sofrimentos,
caiu a lei de como deve ser o toque do shofar, Deve ele representar um gemido
profundo ou um suspiro normal?"
Nessa observação o Rambam demonstra sua
atitude para com a Halachá, e descreve aqui algo muito profundo. O exílio está
repleto dos gemidos judaicos; nós passamos por dois tipos de exílio: o
espiritual e o físico. No espiritual, sofre a alma judaica, e no exílio físico é
o corpo judaico que sofre. O sofrimento espiritual vem pela profanação do
Shabat, pela falta de Cashrut e pelos decretos contra a nossa religião que os
nosso inimigos impõem. O sofrimento físico são as torturas e perseguições. O
shofar deve transmitir para D'us os dois tipos de gemidos, o físico e o
espiritual.
Astrologia
Maimônides estudou profundamente
o assunto antes de emitir sua opinião onde foi um dos poucos que ousaram
levantar sua voz contra a crença quase universalmente aceita do poder dos corpos
celestes de influenciar o destino humano. Ele denunciava a astrologia como uma
superstição próxima à idolatria, rejeitando-a categoricamente e a outras
práticas supersticiosas.
Na sua famosa carta à comunidade do Iêmen,
Maimônides declara: "Eu noto que vocês estão inclinados a acreditarem na
astrologia e na influência das conjunções passadas e futuras dos planetas sobre
os assuntos humanos. Deveriam tirar tais noções de seu
pensamento..."
Maimônides investiu fortemente contra a astrologia,
denunciando-a como um engodo que é subversivo contra a fé e os ensinamentos do
Judaísmo. Ele escreve na Ética dos Pais: "Aprofundei-me neste assunto para que
você não acredite nas idéias absurdas dos astrólogos, que asseguram falsamente
que a posição dos astros no momento do nascimento da pessoa determina se ela
será virtuosa ou perversa."
Amuletos
Desde os tempos mais antigos, as
pessoas têm tentado afastar desgraças, doenças ou "maus espíritos" usando sobre
o próprio corpo pedaços de papel, pergaminhos ou discos de metal, gravados com
várias fórmulas que deveriam proteger ou curar o usuário. Tais artefatos são
conhecidos como amuletos. Maimônides, contrário à considerável parte da opinião
rabínica na Idade Média, opõe-se rigorosamente a tais práticas. Ele argumenta
contra a tolice dos escribas dos amuletos e contra o uso de objetos religiosos
(tais como o Rolo da Torá) para a cura de doenças.
Humanismo:
Em seus ensinamentos, o Rambam
não deixa de lado nenhum detalhe da vida humana. Fala da vida particular, da
vida familiar, do relacionamento entre as pessoas e destas com a coletividade.
Comenta os deveres que nós, judeus, temos para com os países onde vivemos e as
responsabilidades do governo com os cidadãos.
Mashiach:
Ele também escreveu um código
especial para o reino de Israel, para ser usado quando chegasse a época da
Redenção. Este código regula toda a vida do país ligando o reino inferior ao
Reino Celestial (superior) - uma visão da Era Messiânica, quando todos se
comportarão com uma ética mais elevada aplicada a vida diária.
Capítulo 11
... e todo aquele que não acredita no
Mashiach, ou que não aguarda sua vinda - está não apenas contestando os outros
profetas, mas a própria Torá e Moshê Rabênu. (Lei 1)
Maimônides via a ciência e a filosofia como auxílios ao entendimento das Leis de D'us, e não um fim em si mesmas.
... ao levantar-se um rei da
Casa de David estudioso da Torá e dedicado às mitsvot (preceitos) de acordo com
a Torá Escrita e Oral, como seu pai David - e ele levará todo o povo de Israel a
seguir a Torá; ele a fortalecerá e lutará pelas causas de D'us - certamente deve
tratar-se de Mashiach. Se for bem-sucedido, reconstruirá o Santuário em seu
lugar e reagrupará os dispersos de Israel (na terra de Israel) - com toda a
certeza será o Mashiach. Ele retificará o mundo no sentido de todos servirem
juntos a D'us. (Lei 4)
Capítulo 12
Não pense que
na Era Messiânica se anulará algo dos costumes e da natureza do mundo, ou que
haverá qualquer novidade na obra da Criação. Na realidade, o mundo seguirá o seu
caminho... o que ocorrerá é que Israel será estabelecido para sempre... todos os
povos retornarão à verdadeira fé; não furtarão, nem prejudicarão... (Lei
1)
Disseram nossos Sábios: "Não há diferença entre este mundo (esta
época) e a Era Messiânica, exceto que não seremos mais subjugados por outros
povos". O que transparece literalmente das palavras dos Profetas é que no início
da Era messiânica haverá a guerra de "Gog e Magog"; e antes dela se levantará um
profeta que encaminhará Israel e preparará o seu coração...
A pessoa só
saberá como serão todos estes acontecimentos quando ocorrerem, pois são fatos
ocultos nos livros dos profetas... (Lei 2)
Os sábios e os profetas não
ansiavam pela Era Messiânica para dominar o mundo, dominar as nações ou para que
fossem honrados pelos povos, tampouco para ter em abundância alimento, bebida e
festividades. Desejavam, sim, a Era Messiânica a fim de ficarem livres para se
dedicar à Torá e à sua sabedoria, sem que houvesse qualquer domínio ou
obstáculo, pois seria esse estudo que os levaria a merecer a vida no Mundo
Vindouro... (Lei 4)
Na Era Messiânica não haverá fome, guerra, inveja ou
concorrência - pois o bem existirá em profusão e todas as delícias serão
abundantes como o pó da terra. O mundo se dedicará, apenas e tão somente, ao
conhecimento de D'us. Portanto os integrantes de Israel serão grandes sábios e
conhecedores dos fatos ocultos, e captarão o conhecimento do Criador, de acordo
com a capacidade humana, como foi dito: "Pois a terra estará repleta do
conhecimento de D'us, como as águas cobrem o leito dos mares" (Yeshayáhu 11:9).
(Lei 5)
Em um Siyum (Encerramento do Estudo) da obra "Yad Hachazacá" ou
Mishnê Torá de Rambam, o Lubavitcher Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson,
forneceu a seguinte explicação por que Maimônides, ao definir esta época, cita o
versículo completo: "... como as águas cobrem os mares":
Da mesma forma que
nos mares existem peixes e outros seres aquáticos que são distintos da
composição do mar (apesar de sua existência estar completamente condicionada e
dependente do mar), assim também existe a possibilidade de o ser humano conhecer
D'us, apesar de ele e D'us serem duas entidades distintas.
Porém, as
águas que cobrem a superfície do mar na realidade representam sua própria
essência, sendo que elas são a única coisa visível, completamente integradas ao
mar. De maneira similar, disse o Rebe, Maimônides descreve a Era Messiânica como
sendo repleta do conhecimento Divino "como as águas que cobrem os mares" ou
seja, a única coisa visível no mundo seá o conhecimento Divino. As criaturas
estarão integradas ao Criador, sendo que a única existência no mundo será o
conhecimento Divino.
Conselhos práticos
de Rambam
Disposições
Morais
Todo ser humano possui diversos temperamentos,
cada um distinto do outro. Há um tipo irascível e que está sempre zangado; outro
é tranqüilo e quando chega a irritar-se, o faz brandamente, uma vez em muitos
anos. Há indivíduos que são exageradamente arrogantes, e outros extremamente
humildes. Existem ainda os sensuais, cujos desejos nunca podem ser satisfeitos,
e os de coração puro, que não anseiam pelas poucas coisas que o corpo necessita.
Há também os gananciosos, cuja alma não se satisfaz nem com todo o dinheiro do
mundo; os frugais, que ficam contentes mesmo com uma pequena quantia. Embora não
suficiente para suas necessidades. Há aqueles que se torturam pela fome - são
avaros, e não consomem um centavo do que é seu, sem grande angústia. E há os que
desperdiçam intencionalmente todo seu dinheiro.
Os outros temperamentos,
tais como o frívolo e o melancólico, o cruel e o compassivo, o brando e o duro
de coração e assim por diante, podem ser vistos de maneira
similar.
Seguir qualquer um dos extremos de cada temperamento não é o
caminho certo. O correto é a tendência intermediária de cada um deles, dos quais
o homem é dotado. Não se deve ser uma pessoa irada, facilmente irritável,
tampouco apática, que nada sente: o melhor é ficar no meio. O indivíduo deve
ficar irado somente por alguma coisa grave, pela qual seja apropriado zangar-se,
a fim de que tal fato não se repita. Igualmente, não se deve cobiçar algo além
daquilo que o corpo necessita, e sem o qual é impossível sobreviver. Não se deve
ser miserável demais e nem esbanjar o dinheiro. A pessoa deve fazer caridade de
acordo com seus recursos e emprestar àquele que necessita. Não se deve ser
frívolo demais, nem demasiado triste e lamentoso; deve-se porém ser agradável,
contente e cordial todos os dias da vida. O mesmo se aplica aos outros
temperamentos.
A pessoa cujos temperamentos são intermediários e segue o
caminho do meio é chamada de sábia.
Bom caráter e conduta ética são
fatores essencias num ser humano, em seu comprimento dos preceitos Divinos. Uma
pessoa deve ser escrupulosa em sua conduta, delicada ao conversar, agradável aos
seus semelhantes, recebê-los de maneira afável e cortês, conduzir seus assuntos
comerciais com integridade e honestidade, e dedicar-se ao estudo da
Torá.Valor da Vida
Humana
Para salvar uma vida humana, todos os 613
preceitos da Torá, com exceção de três (ver abaixo) podem ser postos de lado, se
necessário. Assim, se alguém está perigosamente enfermo, e os médicos asseguram
que o paciente pode ser curado pelo uso de um remédio que implica a transgressão
de um mandamento bíblico, este deve ser aplicado.
Onde a vida está em
perigo, qualquer coisa proibida pela Torá pode ser usada para curar o paciente,
exceto a prática de idolatria, incesto e assassinato. Entretanto, não se pode
sacrificar uma vida humana para salvar outra, mas o Shabat pode ser profanado;
comida não-casher pode ser consumida e pode-se ingerir alimentos mesmo em Yom
Kipur. A base para esse princípio é a declaração escritural de que "Ele viverá
por eles" (Vayicrá 18:5), que nos ensina que devemos viver pela Torá e não
morrer por ela. Este princípio é aplicável não somente nos casos de perigo de
vida, mas também nos de perigo em potencial.
Seguem alguns exemplos: uma
mulher em trabalho de parto, e pouco depois o parto é considerado como fazendo
parte da categoria dos perigosamente doentes. Todos os preceitos são suspensos,
se necessário, em seu benefício. Se uma mulher morre de parto, é permitido, e
até obrigatório, fazer uma cesariana no Shabat, na tentativa de salvar a
criança. Mesmo que o perigo de vida não seja uma doença física, mas uma ameaça
externa, como no caso de uma vítima de afogamento, ou alguém preso numa casa
incendiada, deve-se fazer todo o possível para salvá-la.
A doença mental e
emocional, perigosa ou potencialmente perigosa, é vista do mesmo modo que a
doença física, como no caso de uma criança trancada num quarto e que pode morrer
de medo se não for salva. Para resgatar alguém de um prédio que desmorona, mesmo
que esteja quase morto, mas com chances de sobreviver, é permitido profanar o
Shabat. Estes regulamentos indicam claramente que o valor da vida humana é
ilimitado e que cada um dos seus momentos é valioso.
Regras Básicas de
Saúde
Banho
A pessoa não deve
tomar banho imediatamente após uma refeição ou quando estiver com muita fome,
mas sim quando o alimento começar a ser digerido.
Deve-se lavar a cabeça
somente com água bem quente. Com relação ao corpo, inicia-se sua lavagem com
água quente, diminuindo a temperatura aos poucos até terminar com água
fria.
Sono
É suficiente para um indivíduo dormir
oito horas diárias. Este sono deve terminar no final da noite, de modo que desde
o começo do sono até o nascer do sol passem-se oito horas. Assim, ele se
levantará da cama antes de o sol nascer.
A pessoa não deve dormir de
bruços ou de costas, mas sobre o seu lado esquerdo, no começo da noite, e no fim
dela, do lado direito. Não se deve deitar para dormir logo depois de comer,
esperando algumas horas depois de uma refeição.
Prisão de
ventre
Uma pessoa não deve adiar suas necessidades fisiológicas
nem por um momento; estas devem ser cumpridas imediatamente. Aquele que as
contêm pode acarretar sobre si doenças graves, pondo sua vida em risco. O homem
deve, ao contrário, habituar seus movimentos intestinais a horários regulares
para não constranger-se na presença de outros.
Quando alguém tem prisão
de ventre, se for jovem: pela manhã deve comer alimentos salgados cozidos e
temperados com azeite de oliva, ou salmoura, sem pão; ou tomar água do espinafre
ou repolho cozidos, misturada com azeite de oliva e salmoura. Se for idoso, deve
tomar mel misturado à agua morna pela manhã, e esperar umas quatro horas para
fazer a primeira refeição. Isso deve ser repetido por três a quatro dias, se
necessário, até regularizar o intestino.
Nutrição e
Dieta
Um corpo frágil não digere bem os alimentos, mesmo os mais
saudáveis, portanto devemos sempre dosar a quantidade do alimento (segundo a
nossa força ou fraqueza), escolhendo a qualidade dos mesmos conforme a
constituição do corpo.
Uma pessoa não deve comer a não ser quando estiver
com fome, nem beber a não ser quando tiver sede; também não deve comer até o
estômago ficar repleto, mas sim consumir aproximadamente uma quarta parte de sua
capacidade.
Uma pessoa deve se alimentar somente após ter caminhado antes
da refeição, para o corpo ficar aquecido, executar algum trabalho físico ou se
cansar por algum tipo de esforço. Se depois do exercício ela se lavar com água
morna, tanto melhor. Deve-se esperar um pouco e só então comer. Não se deve
comer antes de verificar se precisa executar as necessidades fisiológicas.
Ao
comer, a pessoa deve sempre estar sentada ou reclinada sobre o lado esquerdo.
Não deve andar, montar a cavalo, exercitar-se ou agitar o corpo, nem passear até
que o alimento seja digerido.
A pessoa, ao se alimentar, deve sempre
começar com algo leve e depois continuar com os alimentos mais pesados. Nos
meses quentes deve-se comer alimentos refrescantes e não usar temperos
excessivos, exceto vinagre. Nos meses chuvosos ou frios, deve consumir alimentos
quentes, temperar abundantemente a comida e comer um pouco de mostarda e
assafétida. É desta forma que os alimentos devem ser preparados nos climas
quentes e frios.
Não é adequado empanturrar-se como um cão esfomeado, nem
engolir uma bebida fria quando se tem sede como alguém que está subitamente
ardendo em febre, bebendo o conteúdo do copo de uma só vez. Ainda mais
importante é que não se estende a mão em vão ao alimento, especialmente doces e
similares, que são chamados de "comidas de glutão".
Tomar água fria antes
de começar as refeições é danoso à digestão e ao fígado. Não se deve beber água
durante as refeições, a não ser um pouco e misturada ao vinho. Quando o alimento
começa a ser digerido pode-se tomar água na medida da necessidade, mas não em
excesso.
A mais saudável das águas potáveis é aquela que não tem sabor
nem odor. Estas águas são as que mais saciam e as mais agradáveis. Todas aquelas
que fluem numa direção oriental sobre areia limpa e ficam rapidamente aquecidas
são as mais adequadas para beber.
Perigos Ambientais
As carcaças de animais, túmulos e curtumes devem ser instalados
à distância de uma cidade. Um curtume deve ser construído do lado leste da
cidade, porque o vento oriental é suave e diminui os odores desagradáveis
produzidos pela curtição dos couros.
Os malefícios provocados pela
fumaça, o odor dos aparelhos sanitários, poeira em excesso, máquinas que causam
trepidação do solo, são motivos para que a parte prejudicada processe o seu
vizinho a fim de obrigá-lo a remover os causadores dos danos até uma distância
adequada.
Qualquer pessoa que deseje preservar sua saúde deve levar em
consideração, em primeiro lugar, a água limpa e uma dieta saudável. O ar urbano
é poluído, turvo e denso, resultado natural dos prédios altos, ruas estreitas e
do lixo dos seus moradores.
A pessoa deveria, se possível, escolher como
residência um local amplo e arejado. As melhores moradias estão localizadas num
andar mais alto, onde entra bastante sol. Os sanitários devem ficar o mais longe
possível das salas de estar. O ar deve ser conservado seco e agradável,
usando-se perfumes suaves através de desodorantes especiais. A preocupação com o
ar puro é a regra primordial na preservação do corpo e da
alma.
Alcoolismo
Não se deve exagerar no vinho e
na folia, pois a embriaguez excessiva e a leviandade não levam ao júbilo, mas
sim à loucura. Para algumas pessoas, vinho de safra nova faz mal, ao passo que
vinho velho faz bem.
(Escritores de muitos países, nos últimos séculos,
têm comentado a relativa sobriedade dos judeus. Estatísticas relativas a prisões
por embriaguez, psicoses relativas ao álcool têm se mostrado menos
representativas entre os judeus. Um dado repetido em muitos estudos é que mais
judeus do que outros grupos étnicos ou religiosos consomem bebidas alcoólicas,
mas proporcionalmente menos judeus são alcoólatras. Uma das explicações para
esta baixa incidência de alcoolismo entre os judeus se refere à precoce
iniciação das crianças no uso ritual do vinho, que acrescenta uma nota
cerimoniosa à refeição, elevando-o, deste modo, de uma necessidade biológica a
um ato singularmente humano, pelo qual o judeu reconhece a presença de D'us à
mesa. Tais atitudes precoces podem prevenir excessos subseqüentes na ingestão de
bebidas alcoólicas.)
Matrimônio
O matrimônio no
Judaísmo é um mandamento Divino (Devarim 12:13). Suas finalidades incluem a
procriação, o companheirismo, a auto-realização e também a aquisição de um
estado de santidade que surge ao se evitar o pecado i.e., o sexo ilícito fora do
matrimônio.
Para cumprir o mandamento bíblico: "Frutificai e
multiplicai-vos" (Bereshit 1:28; 9:1-7; 35:11), um homem deve ter pelo menos um
filho e uma filha. Entretanto, os sábios aconselharam ter mais filhos.
O
homem não pode se casar com uma mulher incapaz de ter filhos, a menos que ele já
tenha cumprido o mandamento da procriação. Ele nunca deve casar-se com a
intenção de divorciar-se depois.
Um homem é obrigado a prover sua esposa
de alimento (i.e., manutenção), vestuário (incluindo jóias e perfumes) e
direitos conjugais. Num matrimônio judaico, acima da questão da procriação,
existem os direitos conjugais da esposa, tecnicamente designados "ona". Assim, a
relação não procriativa, como ocorre quando a mulher é jovem demais para ter
filhos, estéril, está grávida, pós-menopausa, ou após uma histerectomia, não só
é permitida como é requerida.
Os sábios ordenaram que o homem deve honrar
sua esposa mais que a si mesmo, e amá-la como a si mesmo. Se tiver posses, deve
aumentar sua generosidade de acordo com sua riqueza; não deverá causar-lhe medo
indevido; ao falar com ela deve ser gentil e não deve ser propendo à ira ou à
melancolia.
Também ordenaram que, por sua vez, a esposa deve honrar o
marido e reverenciá-lo; deve-se organizar seus afazeres de acordo com as suas
instruções. Ele deverá parecer a seus olhos tal como um príncipe ou rei,
enquanto ela se conduzirá de acordo com os desejos de seu coração e se manterá
afastada de tudo que a ele for odioso.
Este é o caminho das filhas e dos
filhos de Israel, que são santos e puros em seu relacionamento, e sua vida
conjugal é louvável.
As Relações
O homem para ser
perfeito deve ter controle completo sobre seu desejo sexual, alimentar ou de
bebida, para não impedir o desenvolvimento de sua perfeição. A moderação no
sexo, como em todas as esferas das atividades biológicas humanas, é recomendada.
No Judaísmo, a aversão pela libidinagem e prostituição é bem
enfatizada.
Sempre que o sêmen é emitido em excesso, o corpo fica
esgotado e sua força diminui. Aquele que se excede estará sujeito ao
envelhecimento precoce, esgotamento físico e enfraquecimento da visão.
O
sexo pré-marital é proibido. O homem deverá primeiro levar sua futura esposa
para dentro do seu próprio lar e designá-la como exclusivamente sua, através da
cerimônia nupcial. Se ela for virgem, ele se alegrará com ela, participando de
refeições festivas durante a primeira semana, sem trabalhar. (Esta é chamada a
semana de "sheva berachot".) Se for viúva ou divorciada, deverão ter as "sheva
berachot" durante três dias.
No casamento, a relação não somente é
permitida, como faz parte das obrigações do marido para com a mulher, e deve
ocorrer com o consentimento de ambos.
Quando um homem procura sua esposa,
não deve fazê-lo no começo da noite, quando está saciado; nem no fim da noite,
quando está faminto. Ele deve coabitar no meio da noite, quando o alimento já
tiver sido digerido. Primeiramente deve conversar com sua esposa e diverti-la um
pouco, a fim de deixá-la descontraída; depois ter a relação, com modéstia,
carinho e atenção, sem imprudência.
O Ritual da
Circuncisão
Esse mandamento não foi prescrito com vistas a
reparar o que pode ser congenitamente imperfeito, mas para aperfeiçoar
moralmente o ser humano.
A circuncisão tem outro significado, muito
importante: todos aqueles que acreditam na unicidade de D'us possuem um sinal
corporal que os une. O homem executa esse ato no seu filho somente em
conseqüência de uma crença genuína.
É também conhecido o quanto amor e
ajuda mútua existem entre as pessoas que ostentam o mesmo sinal, formando para
elas uma espécie de aliança. A circuncisão é uma aliança feita por Avraham,
nosso pai, com vistas à crença na unicidade de D'us, como está escrito: "Para
ser um D'us para ti e para tua semente depois de ti" (Bereshit 17:7). Esta é uma
forte razão para a causa da circuncisão - talvez seja ainda mais forte do que a
primeira.
A circuncisão é realizada no oitavo dia, porque os seres vivos
são muito frágeis e excessivamente tenros ao nascer, como se ainda estivesse no
útero. (Maimônides parecia estar aludindo ao que hoje é reconhecido como
icterícia, que pode se manifestar nos primeiros dias de vida).
A
circuncisão no oitavo dia evita o sangramento que pode ocorrer na primeira
semana de vida, devido a deficiências no fator de coagulação, permitindo a
maturação do sistema de conjugação dos pigmentos da bílis.
Crueldade contra animais
A crueldade gratuita
contra animais é proibida pela Lei Judaica, uma proibição que os Sábios
deduziram da Torá. Quem impedir um animal de se alimentar enquanto estiver
trabalhando estará sujeito a punição. Ademais, se o animal estiver sedento, a
obrigação é dar-lhe de beber.
Entretanto, se aquilo que o animal estiver
ingerindo for danoso ao seu organismo e lhe fizer mal, será permitido impedi-lo
de comer. De fato, o animal deverá ser alimentado antes mesmo do ser humano, no
entanto quando se refere à sede, o ser humano tem
prioridade.
Shechita (abate ritual)
O mandamento
referente ao abate de animais é necessário, pois o alimento natural do homem
consiste de plantas derivadas de sementes que crescem na terra e da carne dos
animais. Os melhores tipos de carne são aqueles que nos são permitidos (i.e.,
casher). Nenhum médico ignora este fato.
Como a necessidade de obter bons
alimentos requer que os animais sejam mortos, a meta é matá-los da maneira mais
branda possível. É proibido torturá-los de modo a perfurar a parte abaixo de sua
garganta ou decepar um de seus membros. É igualmente proibido abater o "animal e
o seu filhote no mesmo dia" (Vayicrá 22:28), sendo esta uma medida de precaução
para não matar a cria diante da mãe, pois nestes casos os animais sentem uma dor
intensa, idêntica à do ser humano.
Citações de
Rambam
"A verdade não se torna mais
verdadeira porque o mundo inteiro concorda com ela, nem menos verdadeira, mesmo
que o mundo inteiro discorde dela".
More Nevuchim II:15
"O alicerce de todos os fundamentos e princípios básicos da Torá, e o pilar de todas as sabedorias é: compreender que há um Ser Supremo que traz todo ser criado para a existência. Todas as coisas existentes - no céu, na terra, e o que há entre eles - resultaram somente a partir da verdadeira existência de D'us. Se imaginássemos que Ele não existe, nada mais poderia ter existência."
Parágrafo inicial do Mishnê Torá
"Há coisas que estão dentro do âmbito e da capacidade de apreensão da mente humana; há outras que o intelecto não pode, de maneira alguma, captar - as portas da percepção estão fechadas."
More Nevuchim I:31
"Compete-nos amar e temer a
D'us, pois está escrito: 'Amarás o Senhor teu D'us' (Devarim 6:5) e 'Temerás o
Senhor, teu D'us' (Devarim 6:13).
Como se chega a amar e temer a
D'us?
Quando
alguém reflete sobre as grandes e maravilhosas obras de D'us e Suas criaturas,
percebendo nelas a infinita e ilimitada sabedoria Divina, ele será levado a
amar, exaltar e glorificá-Lo, ansiará por conhecer o Onipotente... Ao meditar mais
sobre estes assuntos, ele recuará atemorizado, compreendendo que é uma criatura
ínfima, dotada de inteligência limitada, e que está na presença d'Aquele que é
perfeito no saber..."
Mishnê Torá, Yessodei Hatorá, II:1-2
Comentário final
Nas áreas da lei e da filosofia, as contribuições de Maimônides ao pensamento judaico são ímpares. Seu Comentário à Mishná, Mishnê Torá e Guia Para os Perplexos são cada qual um marco na história do pensamento judaico. De fato, a extensão da influência de Maimônides sobre eruditos de épocas posteriores talvez seja melhor expressa pelo dito que está gravado sobre sua tumba em Tiberíades em Israel: "De Moshê (Moisés) a Moshê (Maimônides), nunca houve ninguém como Moshê."