LITERATURA DE SABEDORIA I

Literatura de Sabedoria 

LITERATURA DE SABEDORIA

A. MENES
A literatura bíblica de sabedoria foi em parte produzida em rodas bem diferentes. Ela abrange o amplo terreno das normas práticas da vida e da filosofia religiosa. Fragmentos da antiga literatura de sabedoria judaica encontram-se espalhados quase por todos os livros bíblicos. Com especial evidência manifestam-se as variadas formas literárias da antiga sabedoria judaica nos livros de Provérbios, Eclesiastes e Job. O livro Provérbios apresenta-nos uma coletânea de aforismos, sermões e normas de conduta. Os aforismos são, via de regra, breves e constam comumente de um verso duplo, e às vezes apenas de um verso simples:

"Melhor é pouco com justiça
do que a abundância de colheita com injustiça.

"O pobre fala com rogos
Mas o rico responde com dureza.

"Necessidade padecerá o que ama a galhofa
O que ama o vinho e o azeite nunca enriquecerá".

O livro de Job, a maior unidade literária que há no Velho Testamento, pertence incontestavelmente às mais valiosas obras da literatura universal. Aqui se aborda o problema da pessoa que sofre inocentemente, do justo, a quem Deus castigou. A questão do justo que vai mal e do impio que vai bem, da injustiça na ordem do universo, já se encontra nos profetas Jeremias e Habacuc, e continua sendo também nos séculos posteriores um dos problemas centrais do pensamento religioso judaico, que fecundou grandemente a mentalidade religiosa na época do Segundo Templo. Mas, em parte alguma foi este problema elaborado tão amplamente, e tratado com tanta coragem de espírito e liberdade mental, como no livro de Job. O anônimo autor conta primeiro a história popular de Job num prólogo em prosa. Em seguida vem a parte poética, em que o poeta nos apresenta, em forma de uma série de diálogos entre Job e seus amigos, os mais variados conceitos com respeito ao problema da possibilidade de se sofrer inocentemente.

Os três amigos de Job vivem argüindo: Se Deus te castigou, é porque és culpado. Confessa que pecaste. Job, por sua vez, mantém-se firme. Não pecou, e está sofrendo de todo inocentemente. E até se atreve a desafiar Deus para uma disputa. Mais arrojo ainda demonstra o autor, em dando razão a Job.

A forma do diálogo, segundo presumem alguns pesquisadores, é imitação do torneio de sábios, nas côrtes reais ou principescas, torneios muito em voga no mundo antigo. Também é provável que o livro de Job nos apresente uma forma mais elevada da disputa processual (demanda com Deus), a que já nos referimos anteriormente. O que caracteriza o livro de Job é o seu vivo colorido universalístico, aliás não judaico, que se estende através do livro todo. Os personagens não são judeus. O nome de Jeová é substituído, na parte poética do livro, por Shadai ou Eloa; entretanto, não pode haver a menor dúvida de que o autor vivia num ambiente judaico. Este universalismo é geralmente peculiar ao estilo literário dos mestres de sabedoria, pois a sabedoria pela sua própria natureza, era a-nacional e acima de tudo individualista.

Nem Job se ocupa dos problemas da coletividade nacional, mas sim com o destino do indivíduo.

Sob aspecto diferente, o problema da sorte pessoal e felicidade individual é tratado no livro de Eclesiastes. Aqui o autor se oculta sob o nome de Eclesiastes (mestre ou pregador popular). Em outra parte, Eclesiastes se intitula rei de Israel e Jerusalém (pela tradição - Salomão, filho de Davi). Era de supor-se que o poderoso rei de Jerusalém fosse um dos homens mais venturosos. Eis que se revela o contrário. Eclesiastes, que tinha a oportunidade de gozar de tudo que este mundo possa proporcionar a uma criatura humana, vê com particular clareza, quão fútil é a vida humana. A idéia central, que domina o livro todo, é: "Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades; é tudo vaidade".

Por experiência pessoal sabe quão pouco valem a alegria e a felicidade humanas, e que é "preferível ir à casa de luto a freqüentar festivais". O autor também não está satisfeito com a ordem moral do mundo:

"Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo sucede às bestas... e a vantagem dos homens sobre as bestas não é nenhuma".

Tão pouco acredita nas teorias novas que então surgiram a respeito da imortalidade da alma:

"Quem adverte que o fôlego dos filhos dos homens sobe para cima, e o fôlego das bestas desce para baixo da terra?".

Por aí se vê como era variada e multiforme a literatura bíblica na época do Segundo Templo. Eclesiastes e Job caminham, é verdade à margem da estrada tradicional, contudo não impediu isso a sua admissão nas Escrituras Sagradas. São depoimentos de uma vida espiritual livre, em que tomaram parte ativa todas as camadas da população judaica: os pobres e piedosos das cantigas de Salmos, os sacerdotes e levitas, os sábios e pensadores. Ao período do Segundo Templo também pertence a coleção de canções de amor do Cântico dos Cânticos (posto que aí se houvessem infiltrado canções mais antigas também), a maravilhosa história de Ruth, etc...

FONTES JUDAICAS -  ORGANIZADOR PROF MARCIO RUBEN
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