HEBRAÍSMO

O Hebraismo Bíblico - Algumas características do hebraismo bíblico

O HEBRAISMO BíBLICO
(Algumas características do hebraismo bíblico)

LEON ROTH

A mensagem do monoteísmo não se compõe de princípos metafísicos, senão de preceitos éticos. Seu único dogma, o da unidade de Deus, não é apresentado (e não foi, talvez, jamais compreendido) como um credo teórico. O politeísmo compreendia diversos níveis morais, isto é, não possuia nenhum. O monoteísmo o substituiu com o princípio da unidade, um "juiz de toda a terra"(4) com "uma lei"(5) para todos. Tem-se falado muito do "particularismo" do povo eleito e da "transcendência" do Deus eleito, porém, na vida moral traçada pelo legislador e pelo profeta, estes dois elementos encontram-se unidos. "O estrangeiro não afligirás, nem o oprimirás, pois estrangeiros fostes na terra do Egito"(6). Não é senão por experiência pessoal que se pode chegar ao universal. "Ele julgou a causa dos pobres e necessitados... Não era isso conhecer-me? - disse o Senhor"(7). O "Deus escondido"(8) do universo físico está revelado na vida moral.

É difícil precisar como os antigos hebreus chegaram a dar tal importância à conduta. Sabemos, somente, que se diz que "Canaã vomitou seus habitantes"(9), não por falsas crenças, senão por práticas imorais; que Ahab foi acusado, não por haver adorado a Baal, mas pelo assassinato de um pobre homem(10); que os "atos do país onde vós habitastes" e os "atos do país para onde eu vos levo", não as suas doutrinas, estavam interditadas aos israelitas(11); que a eleição primitiva de Abraão também teve por condição: "que ordene a seus filhos... para que guardem o caminho de Deus"; isto é, "fazer justiça"(12). A ideia de Deus parece, com efeito, ter significado, ainda que a ela estivessem unidas outras, justiça e ordem moral.

Compreende-se facilmente como somente o monoteísmo permite conceber a unidade da humanidade. O politeísmo divide a terra em fragmentos autônomos, tendo cada um sua tribo separada e sua divindade privada; até as aspirações de um Platão não superavam o sonho de uma Grécia unida(13). No monoteísmo, a terra e seus povos são um, "os filhos dos Etíopes" como "os filhos de Israel"(14). O monoteísmo une; o politeísmo divide.

Pode-se assinalar uma tendência semelhante nos domínios da lógica e da metafísica. O politeísmo engloba, sem ser naturalmente análogo a ele, o que nós chamamos pluralismo. Pressupõe a existência de muitas vontades coordenadas, cada uma igualmente ativa no governo do mundo. É a teoria óbvia a "do sentido comum", que tem sido aceita e justificada por alguns filósofos. Porém, pense-se o que se queira sobre a natureza e a origem do monoteísmo bíblico, ele exige precisamente a concepção oposta. Não oferece lugar para outra doutrina que a da unidade da origem: "no princípio Deus criou o céu e a terra", e a doutrina da unidade de fonte engloba a da unidade de controle. Esse rasgo de pluralismo, que William James gostava de chamar de "tiquismo", o reino da casualidade, é de tal modo superado.

As interferências esporádicas ou mágicas ficam excluídas de saída. Só um Deus supremo ocupa-se no governo das coisas, e não muitas divindades menores. O poder está concentrado em uma única mão. Nega-se, no começo, a importância, depois a realidade, depois a possibilidade mesma de milagres não realizados pelo Deus único; e até o "falso profeta" taumaturgo, é declarado enviado de Deus para pôr à prova uma geração crédula(15). Porém, o maior dos milagres de Deus verifica-se em sua maneira de controlar de uma vez por todas o caos rebelde. Ele "fixou seus limites no mar", "firmou a terra sobre os seus alicerces", a fim de que "o tempo das semeaduras e das colheitas, o verão e o inverno, o dia e a noite não cessassem"(16). Essas "ordenações do céu e da terra"(17) dão assim, ao mesmo tempo, a prova da potência de Deus e de sua sabedoria única.

Esta dependência completa de todas as coisas com relação a Deus, fonte, ela mesma, da doutrina moral da imparcialidade divina, que é a mais alta justiça, abre perspectivas mais vastas que os estreitos pontos de vista humanos. A Bíblia hebraica, embora dê grande importância às reivindicações do coração humano, é notoriamente teocêntrica. O homem não é nem a medida nem o centro das coisas. O gado de Nínive(18), o boi e o asno do lavrador(19), e até as árvores da selva(20) têm sua importância aos olhos do Criador de todas as coisas. E "o Deus em sua santa morada", que é "pai de órfãos e juiz de viúvas"(21), dá ao corvo seu alimento(22), e rega as ervas do "lugar desértico onde não pôs sua planta nenhuma criatura humana"(23). Este firme sentimento de totalidade dá aos relatos bíblicos seu caráter específico. A universalidade deles é completa. Deus mantém a balança em equilíbrio entre as diferentes partes da criação. Nada é pequeno, nada é grande. "Todos confiam em Ti"(24).

FONTES JUDAICAS -  ORGANIZADOR PROF MARCIO RUBEN
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