BABILÔNIA E ASSÍRIA

Babilônia e Assíria 

BABILôNIA E ASSíRIA

A. MENES

Os informes históricos de fontes assírias formam um complemento muito precioso aos relatos dos livros bíblicos e auxiliam-nos principalmente a controlar e corrigir a cronologia bíblica. Pela primeira vez, só vamos encontrar o nome de Israel nos textos assírios, lá pelo século nove antes da era cristã (853), por ocasião do encontro de Salmanassar III - nas imediações de Carcar, na Síria - com o exército aliado das potências sírio-palestinenses.

Dos monumentos assírios, que se relacionam com Israel, o mais importante é o famoso Obelisco Negro do rei Salmanassar III (859-829). Essa pedra, que mede uns dois metros de altura, acha-se no Museu Britânico, em Londres. Nela estão gravados, em três filas, as imagens dos povos vencidos por aquele monarca, levando tributo para o rei vencedor. A segunda fileira, no alto, representa israelitas levando tributo (842). Este obelisco é valioso por nos oferecer um quadro figurativo dos tipos e trajes israelitas, como os via o artista assírio.

Imagens de judeus da época bíblica também se encontram em outros monumentos assírios. Existe um baixo-relevo do rei assírio Sanaquerib, o qual foi descoberto no lugarejo de Quidjique, onde antigamente ficava a cidade de Ninive. Nesse baixo-relevo, que também se acha em Londres, representa-se a subjugação da cidade de Lachish em Judá, (701 A.C.). No quadro também se vêem judeus conduzidos para a presença do rei.

São também de muita importância os informes assírios sobre as suas guerras com Israel e a queda de Samária.

Do mesmo modo foram descobertos documentos relativamente detalhados, a respeito do sítio de Jerusalém na época de Ezequias, os quais completam os relatos da Escritura Sagrada. Não menos valiosas são as notícias descobertas nos materiais assírios sobre a época de Menassé. Por outro lado, ressentem-se as fontes bíblicas da falta de notícias a respeito das últimas guerras com Judá e a destruição de Jerusalém. Além dos monumentos que se relacionam diretamente com Israel e Judá, foram encontrados muitos materiais assírios, babilônicos, e mais tarde também hamíticos (textos religiosos, obras literárias, etc.), os quais indiretamente nos ajudam a melhor compreender o desenvolvimento econômico e a evolução do povo judeu na antiguidade, especialmente a sua conexão íntima com a cultura dos demais povos daquela época.

Requer-se naturalmente o maior cuidado quando se fazem deduções baseadas em cotejos literários. Semelhança de tema, idéias e até de expressão, são freqüentemente o resultado de análogas situações e semelhantes condições de vida.

Os influxos babilônicos percebem-se com clareza nos primeiros capítulos de Gênesis, nas narrativas sobre a criação do mundo e a história primitiva da humanidade. Neste particular é muito instrutiva a descrição babilônica do dilúvio, a qual se assemelha à história bíblica, não só em sua idéia central, que aliás é difundida pelo mundo inteiro, mas também em alguns detalhes curiosos, como se verifica, adiante, pelo confronto do texto babilônico com o texto bíblico.

Na narrativa babilônica é o próprio personagem do dilúvio, Utnapishtim, quem conta as suas experiências, ao passo que em Gênesis fala-se de Noé na terceira pessoa. Há também no fundo consideráveis diferenças. Na narrativa babilônica faltam principalmente as razões éticas da destruição do mundo, como as encontramos em Gênesis. Outra variação importante é introduzida pelo monoteísmo bíblico. Não obstante, ainda assim é bem evidente, como demonstra o confronto que segue, a dependência do autor de Gênesis da fonte babilônica mais antiga. Eis os dois textos comparados:

TEXTO BABILÔNICO

No monte Nissir parou o navio. O monte Nissir deteve o navio, não o deixando balançar... Quando repontou o sétimo dia, soltei uma pomba, deixando-a voar. A pomba saiu e voltou; porque não achou repouso, ela voltou. Soltei uma andorinha, deixando-a voar. A andorinha saiu e voltou, porque não encontrou repouso, ela voltou. Soltei um corvo, deixando-o voar. O corvo saiu, viu que a água cessou... e não voltou mais. Então fui soltando (sempre) por todos os quatro ventos, e ofereci um sacrifício, ofereci um holocausto no cume do monte.

TEXTO BÍBLICO

E foram as águas indo e minguando... e apareceram os cumes dos montes. E aconteceu que ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a janela da arca e soltou um corvo, que saiu indo e voltando até que as águas se secaram de sobre a terra. Depois soltou uma pomba, a ver se as águas tinham minguado sobre a face da terra. A pomba porém não achou repouso para a planta do seu pé e voltou a ele para a arca; porque as águas estavam sobre a face de toda a terra... e esperou ainda outros sete dias, e tornou a enviar a pomba fora do arco, e a pomba voltou a ele sobre a tarde; e eis arrancada, uma folha de oliveira no seu bico, e conheceu Noé que as águas tinham minguado sobre a terra. Então esperou ainda outros sete dias, e enviou a pomba, mas não tornou mais a ele... E então Noé saiu e sua mulher e seus filhos... e tomou de todo o animal limpo e de toda a ave limpa e ofereceu holocaustos sobre o altar.

Nos outros paralelos babilônicos, a semelhança dá menos na vista, sendo até provável que, em casos isolados, se trate de analogias casuais. Mas seja como for, o certo é que tradições e concepções babilônicas eram também conhecidas em Judá e Israel e que certas idéias e motivos, de uma forma mais ou menos modificada, foram também incluídos na literatura bíblica.

Monumento bem importante neste setor é o Código Hamurabi. A pedra em que o referido código está gravada, foi descoberta nas ruínas da cidade de Suse (Susan) na Pérsia, no inverno de 1901-1902. O texto do código foi pela primeira vez publicado, por V. Sheil, em 1902, causando logo uma grande sensação.

Muitos sábios pretendiam ver nas leis do Pentateuco simples imitação, ou cópia modificada do Código~Hamurabi. A denominada escola "Pan-Babilônica" (H. Vinkler, A. Jeremias e outros) encontrava nisso especial confirmação de sua tese: que todos os povos da Ásia Menor - inclusive os judeus - hauriram toda a sua sabedoria na Babilônia. Mas, hoje em dia, rejeita-se este "babilonismo" exagerado, do fim do século dezenove e princípios do século vinte. Não há que negar as semelhanças e conexões, porém, numa pesquisa mais acurada também aparecem claramente a diferença e a originalidade do desenvolvimento espiritual em Israel.

Já apontamos as diferenças fundamentais - ético-religiosas - na descrição do dilúvio. Ainda mais nítida é a dissemelhança entre os documentos legislativos da Babilônia e de Israel.

Efetivamente, algumas leis avulsas do Pentateuco assemelham-se, segundo a sua formulaçao, às respectivas normas em códigos babilônicos, sendo até provável que o direito babilônico, e particularmente o Código~Hamurabi, estivesse conhecido na Palestina também. Porém, de um modo geral, quando confrontamos o direito bíblico com o do Oriente antigo, ressalta mais a diversidade que a semelhança. O direito babilônico cuida em primeiro plano de proteger a vida e os bens do cidadão, determinando severos castigos não só por assassínio como também por roubo e furto. Ao passo que as leis bíblicas visam antes de mais nada a proteção dos socialmente fracos, e defendem os salariados, os servos, os estrangeiros, os órfãos e as viúvas. Enquanto as outras leis do antigo Oriente contêm, por exemplo, disposições para assegurar os direitos do credor, encontramos no Pentateuco, aos invés disso, uma série de leis que favorecem o devedor.

O mesmo se pode afirmar em relação ao direito escravista. Em Deuteronômio proibe-se expressamente a entrega de um escravo, que fugisse de seu amo, ao passo que pelo Código~Hamurabi aquele que esconde um escravo fugido merece pena de morte. Ainda em muitos outros detalhes se notam consideráveis diferenças entre as leis bíblicas e as da Babilônia, diferenças que se explicam principalmente pelas condições econômicas e político-sociais de Israel.

FONTES JUDAICAS -  ORGANIZADOR PROF MARCIO RUBEN
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